A Páscoa marca a Ressurreição de Cristo. É sinal de vida nova!
Ao longo do tempo quaresmal refletimos sobre os
ensinamentos de Jesus e revivemos Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Tudo
para relembrarmos nossa fé, reavivarmos e nos convertermos plenamente ao Evangelho.
•
Ao longo da
Quaresma
A Quaresma é um período de preparação para a Páscoa. Durante
os quarenta dias se deve buscar a oração, o jejum e a esmola, ações que ajudam
a nos reaproximarmos de Deus e nos reconciliarmos com Ele e os irmãos.
O jejum, por exemplo, nos ajuda também a aprender a lidar com
os impulsos da carne, para nos fortalecermos contra a tendência ao pecado.
Já
a oração nos ajuda a reconhecer Deus como nosso
Senhor. Ao rezar, atestamos que precisamos Dele e somos tementes a Ele, que
estamos à disposição da Sua vontade e somos pequenos diante de Sua grandiosidade e bondade.
E a esmola é sinal da caridade, da preocupação com o próximo, do
saber dividir, ter compaixão e misericórdia dos que
mais precisam, seja de dinheiro, comida ou afeto, mas precisam de um olhar de
Cristo. É preciso dar esse olhar e atenção!
É necessário e fundamental bem viver a Quaresma para celebrar a Páscoa. Buscar uma boa confissão, fazendo um exame de consciência, para pedir o perdão e a misericórdia de Deus,
receber o sacramento que nos liberta do peso do pecado e nos ajuda na santificação.
• Tempo de
refletir
Durante os 40 dias precisamos
verdadeiramente viver essa reflexão profunda sobre nossas atitudes e o que
Jesus fez pela nossa salvação: deu-nos a vida, além de refletir sobre o que nós fazemos com
isso, se realmente somos dignos dessa tamanha expressão de amor de Deus.
Ter essa conscientização e esse transbordar
de amor, de sentir-se amado por Deus, nos faz viver bem a Páscoa junto aos irmãos, à família, à comunidade e em sociedade.
O Domingo de Páscoa é a expressão máxima de felicidade e alegria, pois é a
ressurreição de Cristo, é a realização concreta do Cristo
Ressuscitado no terceiro dia, conforme as Escrituras. É preciso celebrá-lo, celebrar a vida, celebrar o amor de
Deus, a chance que Ele nos dá de vida nova.
• No Domingo de
Páscoa
Comumente as pessoas trocam ovos de Páscoa nesta data e realizam o tradicional almoço de Páscoa, que são
importantes e reforçam, a partir do simbolismo dos ovos, a
vida, e promovem a união das famílias e reconciliações, mas, antes de tudo, é imprescindível ter vivido o período quaresmal plenamente, ter passado pela
caminhada do arrependimento e reconciliação com Deus para ter o que celebrar na
Páscoa. Do contrário, como se pode celebrar?
É preciso refletir sobre o real significado
da Páscoa em comunidade para poder vivê-lo e celebrá-lo. Participar das celebrações de preceito ao longo dos quarenta dias,
inclusive e principalmente da Missa do Domingo de Páscoa, é essencial para concluir com êxito o que é apenas o grande começo de uma vida nova em Cristo.
É tempo de restauração! Vivamos esse tempo
com aprofundamento e plenitude para que possamos celebrar a Páscoa do Senhor cheios de alegria e renovação junto aos
irmãos de comunidade.
Páscoa significa levar a serio nosso
Batismo
• O Baptismo nos introduz numa dinâmica de comunhão com Cristo ressuscitado. A partir do
Baptismo, Cristo passa a ser o centro e a referência fundamental à volta da qual se constrói toda a vida
do crente. Qual o lugar que Cristo ocupa na minha vida? Tenho consciência de que o meu Baptismo significou um compromisso com
Cristo?
• A identificação com Cristo implica o assumir uma dinâmica de vida nova, despojada do egoísmo, do orgulho, do pecado e feita doação a Deus e aos
irmãos. O cristão torna-se então, verdadeiramente, alguém que "aspira às coisas do alto" - quer dizer, alguém que, embora vivendo
nesta terra e desfrutando as realidades deste mundo, tem como referência última os valores de Deus. Não se pede ao crente que seja um alienado, alguém que viva a olhar para o
céu e que
se demita do compromisso com o mundo e com os irmãos; mas pede-se-lhe que não faça dos valores
do mundo a sua prioridade, a sua referência última. A minha vida tem sido uma caminhada
coerente com esta dinâmica de vida nova que começou no dia em que fui baptizado? Esforço-me, realmente, por me despojar do "homem
velho", egoísta e escravo do pecado, e por me revestir
do "homem novo", que se identifica com Cristo e que vive no amor, no
serviço, na doação aos irmãos?
Significado concreto para nossa vida diária
Em outubro de 2020, o
Papa Francisco enviou ao mundo católico uma bela encíclica intitulada Fratelli Tutti.
Inspirado pelo santo São Francisco, ele faz uma proposta maravilhosa. É um convite para construir no mundo uma fraternidade
sem limites. O Papa acrescenta que o São Francisco faz
um “convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, «o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si». Com poucas e simples palavras, São Francisco explicou o
essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar
todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita. Este Santo do amor
fraterno, da simplicidade e da alegria, volta a inspirar-me para dedicar esta
nova encíclica à fraternidade e à amizade social.
Fraternidade e amizade social para criar um
mundo renovado no amor ou para “transfigurar a realidade hoje”
Para o Papa Francisco
aparece como básico o fato de tomar consciência do estado do mundo hoje: “Encontramo-nos mais sozinhos do que nunca neste
mundo massificado, que privilegia os interesses individuais e debilita a dimensão comunitária da existência”.
Hoje há muitos fatores que dificultam o desenvolvimento da fraternidade
universal. Há sinais de retrocesso. Por
exemplo: Falta de consciência histórica, a estratégia política da polarização e desagregação das
pessoas em alguns países, a falta de um projeto que abranja a
todos e a desvalorização de determinados grupos de pessoas, como os idosos e
imigrantes. Temos que trazer esperança ao mundo e o amor é a condição
primordial para fazê-la prevalecer: “Crescemos em muitos aspetos, mas somos
analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar amorosamente os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas”, afirma Francisco.
Diante da falta de amor: agir com amor
fraternal e empatia.
O amor universal, ao qual nos convida o Evangelho de Jesus
Cristo, pressupõe uma capacidade de nos abrirmos para o próximo. Jesus não nos ensinou a perguntar quem é nosso vizinho, mas sim a nos tornarmos vizinhos próximos dos outros. “A proposta é fazer-se presente a quem precisa de ajuda, independentemente de fazer parte
ou não do próprio círculo de pertença”, fala o Papa. Isto implica que temos que incentivar a empatia com os demais, com os que pensam diferente de
nós, com os imigrantes, com os vulneráveis. De alguma forma temos que apreender a que todas as pessoas nessa situação sejam acolhidas, protegidas,
promovidas e integradas com respeito, com apreço, com carinho evangélico.
Um mundo melhor passa por uma política melhor
Sem duvida a política é essencial como um espaço importante na solução dos problemas vividos pelo mundo,
onde a representatividade das pessoas deve ser colocada verdadeiramente a serviço do bem comum.
Mas hoje onde está promovido o bem comum sem interesses egoístas dos
grupos de poder? Nos diz Francisco: “É necessário fazer crescer não só uma espiritualidade da fraternidade, mas
também e ao
mesmo tempo uma organização mundial mais eficiente para ajudar a
resolver os problemas prementes dos abandonados que sofrem e morrem nos países pobres”. Ou seja: Os recursos espirituais fraternais e materiais devem caminhar lado
a lado para alcançar uma realidade transformada e duradoura.
Temos, devemos rezar por bons lideres políticos que buscam com sinceridade o
bem de todos e para que eles não caiam nas garras cruéis da corrupção que é o maior perigo e tentação dos nossos políticos
hoje. Recordemos que eles foram eleitos para servir ao povo e não a si mesmos.
A construção de uma sociedade melhor exige
diálogo
Como em toda realidade humana o dialogo é essencial
para conseguir metas e bom resultados.
Sem o dialogo é impossível conquistar um vínculo respeitoso e fraternal
com os outros. A construção de uma sociedade melhor exige diálogo. Só com o dialogo será possível ultrapassar as conveniências pessoais, com a sustentação de uma palavra
respeitosa e com palavras densas em verdade. Segundo o Papa Francisco, os “heróis do futuro” serão aqueles que conseguirem quebrar a lógica da
sociedade atual de não conseguir estabelecer pontos de convergência. Ele mesmo
acrescenta: “O diálogo perseverante e corajoso não faz notícia como as desavenças e os conflitos; e contudo, de forma
discreta mas muito mais do que possamos notar, ajuda o mundo a viver melhor” .
Construir uma
nova realidade hoje a partir da verdade e do perdão
Como membros de uma sociedade ferida de
muitas maneiras, precisamos nos reconectar como irmãos e irmãs, como criaturas
e filhos e filhas de Deus que somos.
Todos iguais em dignidade, mas diferentes de acordo com a originalidade
de cada um de nós. Nenhum está acima do outro.
Evangelicamente falando, aquele que quer ser o primeiro deve ser o último, aquele que quer ser o líder deve ser o servo de todos, como Jesus foi. Neste
contexto, o perdão na verdade desempenha um papel muito importante. Se queremos ter entre nós uma
compreensão responsável, paz entre os homens, amor sem fronteiras, temos que dialogar e saber
como perdoar uns aos outros. Perdoar sem
renegar nossos erros, nossas histórias
de limitações humanas, nossas biografias muitas
vezes marcadas pelo pecado, mas desejosas de paz e felicidade. Na visão de Francisco, o processo de construção de paz está diretamente ligado
com o perdão e é um compromisso perpétuo com o diálogo. E isso não apenas em relação a grupos rivais que até mesmo
guerrearam entre si. As “desigualdades e a falta de desenvolvimento humano” também geram feridas que impedem a construção da paz. Como cristãos católicos temos a vocação de
ser “artesãos de paz prontos a gerar, com inventiva
ousadia, processos de cura e de um novo encontro. Isso passa pela construção de
uma memória de penitência, “capaz de assumir o passado para libertar o futuro”, finaliza o Papa.
Fé e Religiões devem agir a serviço da fraternidade
Um sinal convincente de que a fé na ressurreição está viva é quando
nós, fieis, damos vida ao Evangelho na vida concreta. A vida, morte e ressurreição de Cristo não
foi em vão. É uma fonte permanente de motivação e um poderoso impulso para construir
uma realidade transfigurada da sociedade e do mundo de acordo com os traços de Cristo.
Por outro lado o Papa Francisco faz um
destaque especial sobre a contribuição das religiões para praticar a
fraternidade universal: o Papa Francisco deu alguns dos maiores
exemplos na promoção da aproximação e tolerância entre diferentes religiões. Já visitou pessoalmente Bartolomeu, o Patriarca da Igreja
Ortodoxa e o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, um dos principais líderes muçulmanos. Na encíclica, finalmente o Santo Padre suplicou: “Existe um direito humano fundamental que não
deve ser esquecido no caminho da fraternidade e da paz: é a liberdade religiosa para os crentes de todas as religiões”.
Temos que pensar num mundo diferente. Nossa
tarefa agora é pensar e gerar um mundo hospitaleiro: uma visão inclusiva da realidade toda. Em poucas palavras devemos focar e gerar um
mundo de vínculos profundamente afetivos, respeitosos, fortes e permanentes.
Esta é a única maneira de construir uma nova realidade orgânica baseada no amor
fraterno e amizade social.
Palavras para finalizar
Queridos amigos, irmãos e irmãs na aliança de amor, peço a Deus que nestes dias de renovação de nossa fé em tempos
desafiadores possamos crescer no amor fraterno sem fronteiras, bem como no entusiasmo
de construir mais do que nunca uma realidade transfigurada para o bem de todos,
de nossas familias e da humanidade. Rezo para que o exemplo de Nossa Senhora
Rainha, nossa aliada, seja um estímulo permanente em nossa jornada por este mundo que tanto precisa de nós, de nossa fé e de nosso
amor.
Deixe-me terminar esta palestra com uma
breve oração.
“Cristo, nossa salvação, que deste a vida
por amor dos seres humanos, vossos irmãos e irmãs, fazei que nos amemos uns aos
outros com a mesma caridade” (Laudes,
Sexta-feira da Paixão do Senhor)
Pe. Marcelo A.
Schoenstatt
Fontes:
Encíclica Fratelli tutti, Papa Francisco, Outubro 2020
Fratelli tutti, Summary, Catholic Bishops of England and
Wales
7 Lições sobre
fraternidade e amizade, marista.org.br
Fratelli tutti, Comentário de Antonio Spadaro, Revista La
Civiltà Cattólica´
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Video da palestra:
Palestra transmitida ao vivo no face da Liga de famílias do Jaraguá
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