sábado, 3 de abril de 2021

Vamos preparar o coração para a Ressureição e para transfigurar a realidade hoje

 




 

A Páscoa marca a Ressurreição de Cristo. É sinal de vida nova!

 

Ao longo do tempo quaresmal refletimos sobre os ensinamentos de Jesus e revivemos Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Tudo para relembrarmos nossa fé, reavivarmos e nos convertermos plenamente ao Evangelho.

 

   Ao longo da Quaresma

 

A Quaresma é um período de preparação para a Páscoa. Durante os quarenta dias se deve buscar a oração, o jejum e a esmola, ações que ajudam a nos reaproximarmos de Deus e nos reconciliarmos com Ele e os irmãos. 

 

O jejum, por exemplo, nos ajuda também a aprender a lidar com os impulsos da carne, para nos fortalecermos contra a tendência ao pecado.

 

Já a oração nos ajuda a reconhecer Deus como nosso Senhor. Ao rezar, atestamos que precisamos Dele e somos tementes a Ele, que estamos à disposição da Sua vontade e somos pequenos diante de Sua grandiosidade e bondade. 

 

E a esmola é sinal da caridade, da preocupação com o próximo, do saber dividir, ter compaixão e misericórdia dos que mais precisam, seja de dinheiro, comida ou afeto, mas precisam de um olhar de Cristo. É preciso dar esse olhar e atenção!

 

É necessário e fundamental bem viver a Quaresma para celebrar a Páscoa. Buscar uma boa confissão, fazendo um exame de consciência, para pedir o perdão e a misericórdia de Deus, receber o sacramento que nos liberta do peso do pecado e nos ajuda na santificação.

 

Tempo de refletir

 

Durante os 40 dias precisamos verdadeiramente viver essa reflexão profunda sobre nossas atitudes e o que Jesus fez pela nossa salvação: deu-nos a vida, além de refletir sobre o que nós fazemos com isso, se realmente somos dignos dessa tamanha expressão de amor de Deus.

 

Ter essa conscientização e esse transbordar de amor, de sentir-se amado por Deus, nos faz viver bem a Páscoa junto aos irmãos, à família, à comunidade e em sociedade.

 

O Domingo de Páscoa é a expressão máxima de felicidade e alegria, pois é a ressurreição de Cristo, é a realização concreta do Cristo Ressuscitado no terceiro dia, conforme as Escrituras. É preciso celebrá-lo, celebrar a vida, celebrar o amor de Deus, a chance que Ele nos dá de vida nova.

 

No Domingo de Páscoa

 

Comumente as pessoas trocam ovos de Páscoa nesta data e realizam o tradicional almoço de Páscoa, que são importantes e reforçam, a partir do simbolismo dos ovos, a vida, e promovem a união das famílias e reconciliações, mas, antes de tudo, é imprescindível ter vivido o período quaresmal plenamente, ter passado pela caminhada do arrependimento e reconciliação com Deus para ter o que celebrar na Páscoa. Do contrário, como se pode celebrar? 

 

É preciso refletir sobre o real significado da Páscoa em comunidade para poder vivê-lo e celebrá-lo. Participar das celebrações de preceito ao longo dos quarenta dias, inclusive e principalmente da Missa do Domingo de Páscoa, é essencial para concluir com êxito o que é apenas o grande começo de uma vida nova em Cristo. 

 

É tempo de restauração! Vivamos esse tempo com aprofundamento e plenitude para que possamos celebrar a Páscoa do Senhor cheios de alegria e renovação junto aos irmãos de comunidade.

 

Páscoa significa levar a serio nosso Batismo

 

   O Baptismo nos introduz numa dinâmica de comunhão com Cristo ressuscitado. A partir do Baptismo, Cristo passa a ser o centro e a referência fundamental à volta da qual se constrói toda a vida do crente. Qual o lugar que Cristo ocupa na minha vida? Tenho consciência de que o meu Baptismo significou um compromisso com Cristo?

   A identificação com Cristo implica o assumir uma dinâmica de vida nova, despojada do egoísmo, do orgulho, do pecado e feita doação a Deus e aos irmãos. O cristão torna-se então, verdadeiramente, alguém que "aspira às coisas do alto" - quer dizer, alguém que, embora vivendo nesta terra e desfrutando as realidades deste mundo, tem como referência última os valores de Deus. Não se pede ao crente que seja um alienado, alguém que viva a olhar para o céu e que se demita do compromisso com o mundo e com os irmãos; mas pede-se-lhe que não faça dos valores do mundo a sua prioridade, a sua referência última. A minha vida tem sido uma caminhada coerente com esta dinâmica de vida nova que começou no dia em que fui baptizado? Esforço-me, realmente, por me despojar do "homem velho", egoísta e escravo do pecado, e por me revestir do "homem novo", que se identifica com Cristo e que vive no amor, no serviço, na doação aos irmãos?

 

Significado concreto para nossa vida diária

 

Em outubro de 2020, o Papa Francisco enviou ao mundo católico uma bela encíclica intitulada Fratelli Tutti.  Inspirado pelo santo São Francisco, ele faz uma proposta maravilhosa.  É um convite para construir no mundo uma fraternidade sem limites. O Papa acrescenta que o São Francisco faz um “convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, «o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si». Com poucas e simples palavras, São Francisco explicou o essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita. Este Santo do amor fraterno, da simplicidade e da alegria, volta a inspirar-me para dedicar esta nova encíclica à fraternidade e à amizade social.

 

Fraternidade e amizade social para criar um mundo renovado no amor ou para “transfigurar a realidade hoje”

 

Para o Papa Francisco aparece como básico o fato de tomar consciência do estado do mundo hoje: Encontramo-nos mais sozinhos do que nunca neste mundo massificado, que privilegia os interesses individuais e debilita a dimensão comunitária da existência.  Hoje há muitos fatores que dificultam o desenvolvimento da fraternidade universal.  Há sinais de retrocesso. Por exemplo: Falta de consciência histórica, a estratégia política da polarização e desagregação das pessoas em alguns países, a falta de um projeto que abranja a todos e a desvalorização de determinados grupos de pessoas, como os idosos e imigrantes. Temos que trazer esperança ao mundo e o amor é a condição primordial para fazê-la prevalecer: “Crescemos em muitos aspetos, mas somos analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar amorosamente os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas, afirma Francisco.

 

 

Diante da falta de amor: agir com amor fraternal e empatia.

 

O amor universal, ao qual nos convida o Evangelho de Jesus Cristo, pressupõe uma capacidade de nos abrirmos para o próximo.  Jesus não nos ensinou a perguntar quem é nosso vizinho, mas sim a nos tornarmos vizinhos próximos dos outros. A proposta é fazer-se presente a quem precisa de ajuda, independentemente de fazer parte ou não do próprio círculo de pertença”, fala o Papa. Isto implica que temos que  incentivar a empatia com os demais, com os que pensam diferente de nós, com os imigrantes, com os vulneráveis. De alguma forma temos que apreender a que todas as pessoas nessa situação sejam acolhidas, protegidas, promovidas e integradas com respeito, com apreço, com carinho evangélico.

 

Um mundo melhor passa por uma política melhor

 

Sem duvida a política é essencial como um espaço importante na solução dos problemas vividos pelo mundo, onde a representatividade das pessoas deve ser colocada verdadeiramente a serviço do bem comum.  Mas hoje onde está promovido o bem comum sem interesses egoístas dos grupos de poder? Nos diz Francisco: “É necessário fazer crescer não só uma espiritualidade da fraternidade, mas também e ao  mesmo tempo uma organização mundial mais eficiente para ajudar a resolver os problemas prementes dos abandonados que sofrem e morrem nos países pobres”. Ou seja: Os recursos espirituais fraternais e materiais devem caminhar lado a lado para alcançar uma realidade transformada e duradoura. Temos, devemos rezar por bons lideres políticos que buscam com sinceridade o bem de todos e para que eles não caiam nas garras cruéis da corrupção que é o maior perigo e tentação dos nossos políticos hoje. Recordemos que eles foram eleitos para servir ao povo e não a si mesmos.

 

A construção de uma sociedade melhor exige diálogo

 

Como em toda realidade humana o dialogo é essencial para conseguir metas e bom resultados.  Sem o dialogo é impossível conquistar um vínculo respeitoso e fraternal com os outros. A construção de uma sociedade melhor exige diálogo. Só com o dialogo será possível ultrapassar as conveniências pessoais, com a sustentação de uma palavra respeitosa e com palavras densas em verdade. Segundo o Papa Francisco, os heróis do futuroserão aqueles que conseguirem quebrar a lógica da sociedade atual de não conseguir estabelecer pontos de convergência. Ele mesmo acrescenta:  O diálogo perseverante e corajoso não faz notícia como as desavenças e os conflitos; e contudo, de forma discreta mas muito mais do que possamos notar, ajuda o mundo a viver melhor .

 

Construir uma nova realidade hoje a partir da verdade e do perdão

 

Como membros de uma sociedade ferida de muitas maneiras, precisamos nos reconectar como irmãos e irmãs, como criaturas e filhos e filhas de Deus que somos.  Todos iguais em dignidade, mas diferentes de acordo com a originalidade de cada um de nós.  Nenhum está acima do outro.  Evangelicamente falando, aquele que quer ser o primeiro deve ser o último, aquele que quer ser o líder deve ser o servo de todos, como Jesus foi. Neste contexto, o perdão na verdade desempenha um papel muito importante.  Se queremos ter entre nós uma compreensão responsável, paz entre os homens, amor sem fronteiras, temos que dialogar e saber como perdoar uns aos outros.  Perdoar sem renegar nossos erros, nossas histórias de limitações humanas, nossas biografias muitas vezes marcadas pelo pecado, mas desejosas de paz e felicidade.  Na visão de Francisco, o processo de construção de paz está diretamente ligado com o perdão e é um compromisso perpétuo com o diálogo. E isso não apenas em relação a grupos rivais que até mesmo guerrearam entre si. As desigualdades e a falta de desenvolvimento humanotambém geram feridas que impedem a construção da paz.  Como cristãos católicos temos a vocação de ser artesãos de paz prontos a gerar, com inventiva ousadia, processos de cura e de um novo encontro. Isso passa pela construção de uma memória de penitência, capaz de assumir o passado para libertar o futuro, finaliza o Papa.

 

Fé e Religiões devem agir a serviço da fraternidade

 

Um sinal convincente de que a fé na ressurreição está viva é quando nós, fieis, damos vida ao Evangelho na vida concreta.  A vida, morte e ressurreição de Cristo não foi em vão.  É uma fonte permanente de motivação e um poderoso impulso para construir uma realidade transfigurada da sociedade e do mundo de acordo com os traços de Cristo.

 

Por outro lado o Papa Francisco faz um destaque especial sobre a contribuição das religiões para praticar a fraternidade universal: o Papa Francisco deu alguns dos maiores exemplos na promoção da aproximação e tolerância entre diferentes religiões. Já visitou pessoalmente Bartolomeu, o Patriarca da Igreja Ortodoxa e o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, um dos principais líderes muçulmanos. Na encíclica, finalmente  o Santo Padre suplicou: Existe um direito humano fundamental que não deve ser esquecido no caminho da fraternidade e da paz: é a liberdade religiosa para os crentes de todas as religiões”.

Temos que pensar num mundo diferente. Nossa tarefa agora é pensar e gerar um mundo hospitaleiro: uma visão inclusiva da realidade toda.  Em poucas palavras devemos focar e gerar um mundo de vínculos profundamente afetivos, respeitosos, fortes e permanentes. Esta é a única maneira de construir uma nova realidade orgânica baseada no amor fraterno e amizade social.

 

Palavras para finalizar

 

Queridos amigos, irmãos e irmãs na aliança de amor, peço a Deus que nestes dias de renovação de nossa fé em tempos desafiadores possamos crescer no amor fraterno sem fronteiras, bem como no entusiasmo de construir mais do que nunca uma realidade transfigurada para o bem de todos, de nossas familias e da humanidade. Rezo para que o exemplo de Nossa Senhora Rainha, nossa aliada, seja um estímulo permanente em nossa jornada por este mundo que tanto precisa de nós, de nossa fé e de nosso amor.

 

Deixe-me terminar esta palestra com uma breve oração.

“Cristo, nossa salvação, que deste a vida por amor dos seres humanos, vossos irmãos e irmãs, fazei que nos amemos uns aos outros com a mesma caridade”  (Laudes, Sexta-feira da Paixão do Senhor)

 

Pe. Marcelo A.

Schoenstatt

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Fontes:

Encíclica Fratelli tutti, Papa Francisco, Outubro 2020

Fratelli tutti, Summary, Catholic Bishops of England and Wales

7 Lições  sobre fraternidade e amizade, marista.org.br

Fratelli tutti, Comentário de Antonio Spadaro, Revista La Civiltà Cattólica´

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Video da palestra: 

Palestra transmitida ao vivo no face da Liga de famílias do Jaraguá

 

 

 

 

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